Pergunta: Hebreus 6:4-6 significa que podemos perder nossa salvação?
Resposta:
Hebreus 6:4-6 afirma: "Pois é impossível que aqueles que uma vez foram iluminados, experimentaram o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e experimentaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sejam outra vez renovados para o arrependimento; visto que eles estão crucificando de novo o Filho de Deus e expondo-o à vergonha pública." Essa é uma das passagens mais difíceis de interpretar da Bíblia, mas uma coisa é clara: ela não ensina que podemos perder nossa salvação. Há duas maneiras válidas de ver esses versículos:
Uma interpretação sustenta que essa passagem não foi escrita sobre os cristãos, mas sobre os incrédulos que estão convencidos das verdades básicas do evangelho, mas que não depositaram sua fé em Jesus Cristo como Salvador. Eles estão intelectualmente persuadidos, mas espiritualmente descomprometidos.
De acordo com essa interpretação, a frase "uma vez iluminado" (Hebreus 6:4) refere-se a algum nível de instrução sobre a verdade bíblica. Entretanto, entender as palavras das Escrituras não é o mesmo que ser regenerado pelo Espírito Santo. Por exemplo, João 1:9 descreve Jesus, a "verdadeira Luz", dando luz "a todo homem"; mas isso não pode significar a luz da salvação, porque nem todo homem é salvo. Por meio do poder soberano de Deus, todo homem tem luz suficiente para ser considerado responsável. Essa luz ou leva à aceitação completa de Jesus Cristo ou produz condenação naqueles que rejeitam essa luz. As pessoas descritas em Hebreus 6:4-6 pertencem ao último grupo - incrédulos que foram expostos à verdade redentora de Deus e talvez tenham feito uma profissão de fé, mas que não exerceram uma fé salvadora genuína.
Essa interpretação também vê a frase "experimentou o dom celestial" (Hebreus 6:4) como se referindo a uma experiência momentânea, semelhante ao fato de Jesus ter "provado" a morte (Hebreus 2:9). Essa breve experiência com o dom celestial não é vista como equivalente à salvação; em vez disso, é comparada ao segundo e terceiro solos da parábola de Jesus (Mateus 13:3-23), que descreve pessoas que recebem a verdade do evangelho, mas não são verdadeiramente salvas.
Por fim, essa interpretação vê a "apostasia" (Hebreus 6:6) como uma referência àqueles que provaram a verdade, mas, não tendo alcançado a fé, se afastam até mesmo da revelação que receberam. O fato de provar a verdade não é suficiente para evitar que se afastem dela. Eles devem se aproximar de Cristo em completo arrependimento e fé; caso contrário, eles de fato crucificam novamente Cristo e O tratam com desprezo. Aqueles que pecam contra Cristo dessa forma não têm esperança de restauração ou perdão porque O rejeitam com pleno conhecimento e experiência consciente. Eles concluíram que Jesus deveria ter sido crucificado e estão do lado de Seus inimigos. É impossível renovar essas pessoas para o arrependimento.
A outra interpretação sustenta que essa passagem foi escrita sobre os cristãos, e que as frases participantes do Espírito Santo, iluminados e provados do dom celestial são todas descrições de verdadeiros crentes.
Essa segunda interpretação baseia-se em uma tradução alternativa, na qual Hebreus 6:6 começaria com a frase "se caíram", sendo a palavra-chave "se". De acordo com essa visão, o escritor de Hebreus está fazendo uma declaração hipotética: "SE um cristão se desviar". O que está sendo dito é que seria impossível (SE um cristão se afastasse) renovar a salvação. Isso porque Cristo morreu uma vez pelo pecado (Hebreus 9:28), e se o Seu sacrifício for insuficiente, então não há esperança alguma.
Nessa visão, a passagem apresenta um argumento baseado em uma premissa falsa (que um verdadeiro cristão pode se afastar) e o segue até sua conclusão sem sentido (que Jesus teria que ser sacrificado repetidas vezes). O absurdo da conclusão aponta para a impossibilidade da premissa original. Esse raciocínio é chamado de reductio ad absurdum, no qual uma premissa é refutada ao se mostrar que ela leva logicamente a um absurdo. O ponto fraco dessa visão é que o texto grego não contém uma palavra equivalente ao se em português.
Ambas as interpretações apóiam a segurança do crente em Cristo. A primeira interpretação, que tem uma base textual mais forte, apresenta os incrédulos rejeitando Cristo e, portanto, perdendo sua chance de salvação; a segunda interpretação, mais fraca, apresenta a própria ideia de os crentes perderem a salvação como impossível. Muitas passagens deixam bem claro que a salvação é eterna (João 10:27-29; Romanos 8:35, 38-39; Filipenses 1:6; 1 Pedro 1:4-5), e Hebreus 6:4-6 confirma essa doutrina.