Resposta:
O argumento da razão é uma tentativa de demonstrar que a crença no naturalismo é injustificada; ou seja, é uma crença que não pode ser confiável. Isso é feito mostrando que a crença no naturalismo é contraditória à confiança na razão humana. Este é um ponto importante, pois ateus costumam tentar enquadrar sua visão de mundo como "mais razoável" do que aquela que adere a ideias transcendentais. Uma declaração geral do argumento da razão seria a seguinte:
Ou a “razão” é apenas uma ilusão da física - caso em que não há justificativa para confiar nela para produzir crenças verdadeiras - ou a “razão” é algo mais do que a física - caso em que o naturalismo é falso. Se a razão humana é conduzida por interações de partículas sem sentido, ela não corresponde necessariamente à verdade. Se acreditamos que a razão corresponde à verdade, não podemos também acreditar que a razão é determinada puramente por meios físicos.
Uma frase ainda mais concisa seria “a existência da própria razão argumenta contra o naturalismo”.
Como em qualquer discussão sobre ideias filosóficas, as definições específicas importam. Neste caso, a razão é a capacidade de uma mente inferir e concluir de forma lógica. Como se aplica ao argumento da razão, a razão se refere ao uso do intelecto para chegar a conclusões reais e verdadeiras. O naturalismo é a crença de que tudo é redutível a componentes físicos; é a visão de que a realidade é nada mais do que matéria e energia.
A filosofia também faz uma distinção entre as perguntas "como conhecemos a verdade?" e “o que é a realidade?" Esses campos são conhecidos, respectivamente, como epistemologia e metafísica. O argumento da razão é uma afirmação epistemológica: examina de forma restrita como sabemos e o quanto confiamos em uma ideia.
Como a razão é uma parte inextricável de nossa compreensão, o argumento da razão também implica fortemente uma afirmação metafísica. Se a "razão" é objetivamente válida - se a razão é "real" - então o naturalismo teria que ser "irreal". Se a razão não existe, por que a humanidade passou a vê-la como fazemos: como uma coisa não material, mas real? Se não existisse luz, nunca saberíamos que estávamos vivendo na escuridão; na verdade, tal ideia seria inútil considerar. No entanto, distinguimos entre razão e irracionalidade.
O argumento da razão é realmente uma série de argumentos, em diferentes formas, expressos tanto por crentes quanto por não crentes. Pensadores como Victor Reppert, C. S. Lewis, G. K. Chesterton, e Thomas Nagel têm sido associados a essas reivindicações. Cada argumento tem suas próprias forças e fraquezas, mas todos compartilham um tema comum. Sugerir que literalmente tudo sobre o universo é efetivamente aleatório é sugerir que os próprios pensamentos e conclusões de alguém são igualmente não confiáveis. Não é necessário começar - ou mesmo concluir - com uma visão de mundo bíblica para apreciar a força lógica dessa ideia.
Uma versão especialmente famosa do argumento da razão foi popularizada por Alvin Plantinga: o argumento evolucionário contra o naturalismo (EAAN em inglês). Plantinga observa que a evolução é dirigida pela sobrevivência do "mais apto", mas as crenças mais "aptas" para a sobrevivência não são necessariamente as mesmas que as que são "verdadeiras". Portanto, se a evolução é verdadeira, a crença no naturalismo é injustificada. Em outras palavras, no mínimo, a crença no naturalismo se contradiz logicamente, graças à evolução.
Para visualizar o argumento evolutivo contra o naturalismo, considere um exemplo extremo: um homem desenvolve o desejo irresistível de ser devorado por um urso invisível. Isso o leva a procurar locais onde ele não vê ursos. Essa crença é contrária à sobrevivência - sem mencionar bizarra - mas, mais importante, é factualmente errada. Seu raciocínio não levou à verdade, pois não existem ursos invisíveis. No entanto, esse raciocínio bizarro e falso torna o homem mais "apto" para sobrevivência, pois o encoraja a ficar longe dos ursos que ele pode ver; ou seja, aqueles que existem.
Isso demonstra que “o que é bom para a sobrevivência” não é idêntico a “o que é verdade”. É inteiramente possível que o raciocínio humano esteja ridiculamente errado e ainda assim forneça resultados “vantajosos” de uma perspectiva de sobrevivência ou evolucionária. Se a razão humana é inteiramente o resultado de uma evolução sem propósito e voltada para a sobrevivência, então o raciocínio “útil” e o raciocínio “verdadeiro” são categorias distintas. Isso implica que todos os produtos da razão humana são não confiáveis, incluindo a crença no naturalismo e na evolução.
Isso volta à afirmação central do argumento da razão: pode-se acreditar no naturalismo ou confiar na razão, mas não se pode fazer as duas coisas. O conflito pode parecer mesquinho quando aplicado a questões práticas, mas quanto mais esotérica a ideia é - como seria o caso de conceitos como o naturalismo - menos confiante se pode estar na correspondência de verdade da razão humana.
A tentativa mais comum de refutar os argumentos da razão usa o conceito de emergência. Esta é a alegação de que certos conceitos se desenvolvem a partir de - eles “emergem de” - a interação combinada de coisas menos complexas. Claro, em uma visão de mundo naturalista, emergente é sinônimo de muito complicado. Ou todo o processo em última análise se baseia na física simples, ou não. Se o processo não se resume à matéria e energia, então não é naturalista. Outro erro frequente é afirmar que desmascarar uma única versão do argumento da razão de alguma forma prova o naturalismo. Isso é, ironicamente, irracional, já que demonstrar que uma conclusão foi chegada de forma ilógica não significa, por si só, que a conclusão é falsa.
Como a maioria dessas ideias, o argumento da razão tem limitações. Seu propósito é sugerir uma contradição irreconciliável entre as declarações "Acredito que o naturalismo é verdadeiro" e "Confio na razão humana". Em si, esses argumentos nada dizem sobre a existência de qualquer deidade em particular. Nem sugerem muito sobre a natureza de Deus ou da Bíblia. Dito isto, o argumento da razão é uma ferramenta útil que demonstra como aqueles que rejeitam Deus - como fazem os naturalistas - estão, finalmente, lidando com ilógica e teimosia (Romanos 1:18-25; Judas 1:10).