Pergunta: O que a Bíblia diz sobre o casamento infantil?
Resposta:
A definição de criança tem variado de cultura para cultura e de século para século. A maioria dos países modernos declara que um filho ou filha tem idade legal para se casar entre 18 e 21 anos. Em alguns países, a idade pode ser tão baixa quanto 15 anos. Na cultura judaica antiga, as meninas eram consideradas casáveis depois de completarem a puberdade, mas os meninos não eram considerados homens em seu sentido pleno até os 20 anos.
O livro de Números reforça a idade de 20 anos para a maioridade de um homem. Somente os homens com 20 anos ou mais eram considerados elegíveis para servir no exército (Números 1:18). Entre os clãs da tribo de Levi, os coatitas, gersonitas e meraritas, os homens não eram considerados elegíveis para o serviço no templo até a idade de 30 anos (Números 4:3, 23, 30). Os levitas que serviam como sacerdotes eram elegíveis aos 25 anos de idade (Números 8:24-26). Considerando esses requisitos de idade, parece razoável supor que Deus não considerava os menores de 20 anos responsáveis o suficiente para fazerem decisões de adultos. Portanto, seria de se esperar que 20 anos fosse a idade mais precoce em que um homem poderia se casar normalmente.
Ezequiel 16 nos dá uma dica de que uma jovem não era considerada pronta para o casamento até que tivesse completado a puberdade. Para algumas meninas, isso pode ter sido aos 13 ou 14 anos, mas para outras a puberdade pode não ter se completado até os 16 anos ou mais. Ezequiel pinta um quadro do relacionamento de Deus com Seu povo escolhido, comparando Israel com uma menina órfã em vários estágios de desenvolvimento. O Senhor primeiro vê seu nascimento e depois a observa crescer: "Eu te fiz crescer como o broto do campo. E cresceste, prosperaste e ficaste muito bela. Formaram-se os teus seios e o teu cabelo cresceu; porém estavas nua e descoberta. Passando por ti, vi que já estavas na idade de amar; então estendi minha capa sobre ti e cobri tua nudez. Fiz um juramento e firmei uma aliança contigo, diz o SENHOR Deus, e tu passaste a me pertencer" (Ezequiel 16:7-8). A metáfora se baseia no fato de que somente depois que uma menina atinge a maturidade física, algum tempo após (e não durante) a puberdade, é que ela tem "idade suficiente para amar", ou seja, está pronta para o casamento.
Entretanto, a Bíblia não estabelece uma idade específica para o casamento, seja para homens ou mulheres. Era dada muita ênfase à capacidade da mulher de conceber e gerar filhos. As mulheres provavelmente eram mais jovens do que os homens com os quais se casavam, talvez até significativamente mais jovens. A mulher permanecia na casa do pai até o casamento, e os pais consideravam sua responsabilidade encontrar maridos adequados para suas filhas. O casamento era mais do que apenas o casal que se casava; ele também tinha a ver com a preservação das tribos familiares e a provisão para as gerações futuras. Entre a realeza de muitas culturas antigas, inclusive em Israel, o casamento também tinha a ver com acordos entre países, com mulheres sendo dadas aos reis como esposas para indicar um acordo entre nações ou governantes.
Para a família típica, o casamento era uma questão de provisão e procriação. O pai era responsável pela filha até que o marido se tornasse a parte responsável. Tanto os pais quanto os pretendentes levavam essa obrigação a sério. O futuro marido deveria dar um dote à família da noiva para demonstrar seu compromisso. Vemos uma ilustração dessas tradições na história de Jacó, Lia e Raquel (Gênesis 29:16-27). Jacó queria se casar com Raquel e trabalhou sem remuneração para o pai dela por sete anos como dote. Mas o pai de Raquel, Labão, não queria que sua filha mais nova se casasse antes da mais velha. Assim, ele enganou Jacó e, na noite de núpcias, deu-lhe Lia em vez de Raquel. Labão também deu Raquel em casamento a Jacó uma semana depois, exigindo que Jacó trabalhasse mais sete anos.
Também vemos no relato da filha de Jairo que uma menina de 12 anos ainda era considerada uma garotinha (Marcos 5:21-43). Duas vezes nessa passagem, a filha é chamada de "menina" (versículos 23, 41). Portanto, embora provavelmente estivesse entrando na puberdade, a filha de Jairo ainda era considerada uma criança e não estava pronta para o casamento.
O casamento é um compromisso solene, e quando a Bíblia fala dele, é sempre entre um homem e uma mulher (Gênesis 2:24; Marcos 10:7). As palavras gregas e hebraicas usadas quando se fala em casamento implicam em homens e mulheres maduros, nunca em noivas crianças. Cada cultura tem suas próprias tradições e exigências de idade, e os jovens da antiguidade estavam mais bem preparados para o casamento em idades mais precoces do que hoje em dia, quando a adolescência é muitas vezes mimada e prolongada. Qualquer cultura, antiga ou moderna, que case meninas com homens mais velhos está essencialmente legalizando o abuso infantil, e essas práticas não são toleradas nas Escrituras.