Resposta:
A visão criacionista histórica afirma que o relato da criação em Gênesis 1–2 realmente pretende ser um relato histórico – não poesia ou mitologia. Ao mesmo tempo, a interpretação do criacionismo histórico alivia muito da tensão entre a ciência moderna e as Escrituras que parece ser inerente à visão criacionista da Terra jovem, que também usa uma leitura “histórica” de Gênesis 1. O criacionismo histórico também é chamado de “histórico” para salientar que não é novo, mas tem sido sustentado por muitos ao longo da história da igreja, especialmente antes do surgimento da ciência moderna.
O criacionismo histórico tem sido promovido ultimamente por John Sailhamer (professor do Antigo Testamento no Seminário Batista Teológico de Golden Gate em Brea, Califórnia) em seu livro Genesis Unbound: A Provocative New Look at the Creation Account (originalmente publicado em inglês por Multnomah 1996, segunda edição por Dawson Media, 2011).
O criacionismo histórico sustenta que Gênesis 1:1 é o relato da criação do universo. Essa criação ocorreu “no princípio” – em um período de tempo não especificado que pode ter durado muito tempo e pode ter sido há muito tempo. O relato de Gênesis simplesmente não nos dá nenhum prazo para quando o universo físico foi criado. Pode muito bem ter sido criado há muito tempo (até milhões ou bilhões de anos), ou pode ter sido criado muito lentamente ao longo do tempo. Portanto, a interpretação criacionista histórica do relato de Gênesis não requer uma visão de “Terra jovem”.
Quando retomamos a história em Gênesis 1:2, a terra é sem forma e vazia. Antes da ciência moderna, haveria pouca ou nenhuma compreensão do conceito da Terra como um planeta. Assim, de acordo com o criacionismo histórico, a palavra terra teria sido entendida como uma área específica de terra, não o “Planeta Terra”. Gênesis 1:2–2:24 relata a preparação de uma área específica de habitat para a humanidade—o Jardim do Éden—que ocorreu ao longo de seis dias literais.
A relação de Gênesis 1:1 e 1:2 pode ser declarada na seguinte paráfrase: “No princípio, Deus criou o universo. Depois de fazer isso, Ele voltou a Sua atenção a uma área específica para o homem viver. Estava escuro, então Ele disse: ‘Haja luz’”. As palavras sem forma e vazia podem se referir a um deserto incapaz de sustentar a vida. (O mesmo termo é usado em Deuteronômio 32:10 para se referir ao deserto na época das peregrinações de Israel. Se não fosse pela provisão especial de Deus, as pessoas não poderiam ter sobrevivido ao seu tempo lá.) Então, de acordo com o criacionismo histórico, em vez de toda a terra ser uma massa sem forma, Gênesis 1:2 se refere a uma seção específica de terreno baldio que Deus havia escolhido para o homem viver. (O planeta inteiro pode ter sido um deserto estéril, mas isso está fora do escopo desse texto.)
Em seguida, Deus passou uma semana de dias literais de 24 horas para preparar o Jardim do Éden para o homem. Ele primeiro ordenou que o sol nascesse: “Haja luz”. No dia 4, Deus não trouxe à existência o sol e a lua (eles já haviam sido criados em Gênesis 1:1); antes, Ele declarou o propósito deles. Em vez de “haja luzes na abóbada do céu”, os criacionistas históricos argumentariam que a melhor tradução de Gênesis 1:14 seria algo assim: “que as luzes na abóbada do céu sejam sinais”. As luzes existiam desde o Dia 1 e já estavam fornecendo luz, mas, no dia 4, Deus proclamou a sua importância – assim como o arco-íris pode ter existido antes do tempo de Noé, mas depois do dilúvio Deus deu a ele um significado especial. Em Gênesis 1:14 Deus revelou que o propósito dos corpos celestes é servir à humanidade.
O restante da interpretação criacionista histórica de Gênesis 1-2 seguiria as mesmas linhas de outras visões criacionistas, com base em uma leitura um tanto literal do texto.
Existem algumas fraquezas sérias na visão criacionista histórica. Gênesis 1 definitivamente parece, em uma leitura literal, estar descrevendo a criação do universo e a totalidade da Terra. O criacionismo histórico também deve desafiar todos os crentes a se certificarem de que a sua compreensão do relato da criação (ou de qualquer passagem das Escrituras) não seja excessivamente influenciada por traduções ao português e/ou preocupações científicas modernas – seja em capitulação ou oposição a elas.