Resposta:
O Molinismo recebe o seu nome do jesuíta do século XVI, Luis de Molina. O Molinismo é um sistema de pensamento que busca reconciliar a soberania de Deus e o livre-arbítrio do homem. O cerne do Molinismo é o princípio de que Deus é completamente soberano e o homem também é livre num sentido libertário. O Molinismo busca parcialmente evitar o chamado "determinismo teológico": a visão de que Deus decreta quem será salvo ou condenado sem nenhum impacto significativo de sua própria escolha livre. Os defensores de maior destaque do Molinismo hoje são William Lane Craig e Alvin Plantinga.
A principal particularidade do Molinismo é a afirmação de que Deus tem conhecimento médio (scientia media). O Molinismo sustenta que o conhecimento de Deus consiste em três momentos lógicos. Esses "momentos" de conhecimento não devem ser entendidos como cronológicos; em vez disso, devem ser entendidos como "lógicos". Em outras palavras, um momento não vem antes de outro momento no tempo; em vez disso, um momento é logicamente anterior aos outros momentos. O Molinista diferencia entre três diferentes momentos de conhecimento que são respectivamente chamados de conhecimento natural, conhecimento médio e conhecimento livre.
1. Conhecimento Natural – Este é o conhecimento de Deus de todas as verdades necessárias e possíveis: todas as coisas que "podem ser". Neste "momento", Deus sabe todas as possíveis combinações de causas e efeitos. Ele também sabe todas as verdades da lógica e todas as verdades morais. Este conhecimento é independente da vontade de Deus, um ponto que poucos, se houver algum teólogos, disputariam.
2. Conhecimento Médio – Este é o conhecimento de Deus do que uma criatura livre faria em qualquer circunstância dada. Este conhecimento consiste no que os filósofos chamam de contrafactuais de liberdade criatural. Estes são fatos sobre o que qualquer criatura com livre-arbítrio faria livremente em qualquer circunstância em que pudesse ser colocada. Este conhecimento, como o conhecimento natural, é independente da vontade de Deus.
3. Comando Criativo – este é o "momento" em que Deus age de fato. Entre o conhecimento de tudo que é ou poderia ser, e tudo que realmente se torna, está a intervenção e criação proposital de Deus.
4. Conhecimento Livre – Este é o conhecimento de Deus sobre o que Ele decidiu criar: todas as coisas que "realmente são". O conhecimento livre de Deus é o conhecimento do mundo real como ele é. Este conhecimento é completamente dependente da vontade de Deus.
Usando o conhecimento médio, o Molinismo tenta mostrar que todo o conhecimento de Deus é autocontido, mas é organizado de forma a permitir a possibilidade do livre-arbítrio do homem. Em outras palavras, o homem é completamente livre, mas Deus também é completamente soberano - Ele está absolutamente no controle de tudo que acontece, e mesmo assim as escolhas da humanidade não são coagidas.
Segundo o Molinismo, Deus sabe omniscientemente como você teria sido se tivesse vivido na África em vez da Austrália, ou se tivesse sofrido um acidente de carro que o paralisou aos 9 anos. Ele sabe como o mundo teria sido mudado se John F. Kennedy não tivesse sido assassinado. Mais importante, Ele sabe quem escolheria ser salvo e quem não o faria, em cada uma dessas circunstâncias variáveis.
Assim, é a partir deste conhecimento (médio) que Deus escolhe criar. Deus tem um conhecimento médio de todos os mundos viáveis, e Ele escolhe criar o mundo que corresponde aos Seus desejos finais. Portanto, enquanto uma pessoa é verdadeiramente livre, Deus está verdadeiramente no controle de quem é ou não salvo. Os molinistas diferem em como Deus define seus desejos fundamentais. Por exemplo, alguns acreditam que Deus está buscando o maior número de pessoas para serem salvas. Outros acreditam que Deus cria para maximizar algum outro objetivo divino.
O Molinismo é bíblico?
Os molinistas apontam para vários textos para estabelecer que Deus tem "conhecimento médio". Por exemplo, Mateus 11:21–24, onde Jesus denuncia Corazin e Betsaida. Aqui, Jesus diz a essas cidades que "se em Tiro e Sidom se realizassem os milagres que em vós se realizaram, há muito tempo elas teriam se arrependido com roupas de saco e cinza." Este tipo de "se-então" é um exemplo de conhecimento divino do que aconteceria dado um conjunto diferente de circunstâncias. Como tal, o Molinismo vê este verso como evidência de que a doutrina do conhecimento médio é verdadeira.
Estritamente falando, o Molinismo é uma visão que não pode ser refutada ou defendida inteiramente com base bíblica. O mesmo se aplica a outros sistemas filosófico-teológicos como o Calvinismo ou Arminianismo. O conhecimento médio é um conceito filosófico que tenta sustentar tanto a soberania de Deus como o livre-arbítrio do homem. Ao mesmo tempo, pode ser avaliado em vários níveis, incluindo biblica e filosoficamente.
O Molinismo é frequentemente criticado por Calvinistas e Arminianos. Os Calvinistas afirmam que sustentar o livre-arbítrio humano nega a soberania absoluta de Deus. Os Arminianos afirmam que, se Deus controla quem é ou não salvo, então o livre-arbítrio é meramente uma ilusão. Os Molinistas argumentariam que ambos, soberania e livre-arbítrio, são representados e reais na Bíblia, e que o conhecimento médio permite tanto um Deus que está completamente no controle quanto uma humanidade que é completamente livre.
Nem todas as pessoas sentem que o Molinismo é a melhor maneira de pensar sobre a soberania de Deus e o livre-arbítrio humano. A Bíblia ensina que Deus é soberano sobre todas as coisas (Provérbios 16:33; Mateus 10:29; Romanos 11:36; Efésios 1:11), até mesmo nas decisões humanas (Provérbios 20:24; 21:1). Embora Deus não instigue os homens a pecar (Tiago 1:13), Ele ainda está trabalhando tudo, de indivíduos a nações, para o fim que Ele planejou (Isaías 46:10–11). Os propósitos de Deus não dependem do homem (Atos 17:24–26). Nem Deus descobre ou aprende (1 João 3:20; Jó 34:21–22; Salmos 50:11; Provérbios 15:3). Todas as coisas são decretadas pelo conselho infinitamente sábio de Deus (Romanos 11:33–36).
Dito isso, deve-se notar que o Molinismo concordaria com tudo o que foi dito no parágrafo acima. Não é neste nível que Calvinistas e Molinistas discordam. Onde Calvinismo, Arminianismo e Molinismo discordam mais é na interpretação de doutrinas como depravação total e expiação limitada, à luz dessas outras ideias.