Resposta:
A teologia do novo pacto é melhor descrita como um princípio hermenêutico, ou uma grade interpretativa através da qual se lê e interpreta as Escrituras. Como um princípio hermenêutico, ela se apresenta como uma ponte entre a teologia dispensacional e a teologia do pacto. Isso não quer dizer que a teologia do novo pacto tenha se colocado intencionalmente entre a teologia dispensacional e a do pacto, mas que a teologia do novo pacto compartilha coisas em comum com ambas dispensacional e do pacto. Como tal, não podemos dizer o que é a teologia do novo pacto sem referência à teologia dispensacional e à teologia do pacto.
A teologia dispensacional essencialmente vê as Escrituras se desdobrando numa série de, normalmente, sete “dispensações”. Uma dispensação pode ser vagamente definida como o meio pelo qual Deus governa Suas ações com o homem e a criação. Portanto, a governança de Deus era diferente com Adão do que era com Abraão, etc. A teologia dispensacional vê a revelação como progressiva, ou seja, em cada dispensação, Deus revela mais e mais de Seu plano divino de redenção. No entanto, enquanto a Escritura é uma revelação progressiva, cada sucessiva dispensação representa uma nova maneira de Deus lidar com Sua criação. Em outras palavras, de acordo com a teologia dispensacional, há um forte nível de descontinuidade entre as dispensações; uma vez que uma velha dispensação acaba e uma nova começa, a "velha" maneira de fazer as coisas sob a velha dispensação é superada pela nova dispensação. E cada dispensação é tipicamente introduzida com alguma nova revelação de Deus.
O importante a lembrar com a teologia dispensacional é que há uma distinção aguda entre Israel e a Igreja. São dois povos diferentes com dois destinos diferentes na economia de Deus. A Igreja é vista como um "parêntese" entre as relações de Deus com Israel nacional. O reino restaurado prometido a Israel será cumprido no Milênio. Até então é a Era da Igreja — o tempo dos Gentios.
A teologia do pacto é efetivamente o oposto polar da teologia dispensacional. Embora ambos concordem que a Escritura é progressiva, o princípio dominante da teologia do pacto é o pacto. A teologia do pacto vê dois pactos teológicos na Escritura — o pacto de obras e o pacto de graça. O pacto de obras foi introduzido no Jardim entre Deus e o homem, no qual Deus prometeu à humanidade vida pela obediência e julgamento pela desobediência. O pacto de obras foi reintroduzido no Sinai quando Deus prometeu a Israel uma vida longa e bençãos na terra sob a condição de sua obediência ao pacto Mosaico, mas expulsão e julgamento no caso de sua desobediência. O pacto de graça foi implementado após a queda e representa o pacto incondicional de Deus com o homem para redimir e salvar os eleitos. Todos os vários pactos bíblicos (Noéico, Abraâmico, Mosaico, Davídico e o Novo) são desdobramentos do pacto de graça quando Deus opera Seu plano de redenção na história humana. Assim, enquanto a teologia dispensacional via uma descontinuidade entre as várias dispensações (e em particular entre o Antigo e o Novo Testamentos), a teologia do pacto vê um grande grau de continuidade.
Isso é especialmente evidente no fato de que a teologia do pacto não vê uma distinção aguda entre Israel e a Igreja. Ambas as entidades são vistas como um povo contínuo de Deus com um destino final.
Tudo isso serve de pano de fundo para ver a teologia do novo pacto. Como mencionado anteriormente, a teologia do novo pacto é um ponto intermediário entre os dois. Ela compartilha muito em comum com a teologia clássica do pacto, em particular a continuidade entre a Igreja e Israel como sendo um povo de Deus. No entanto, ela também difere da teologia do pacto no sentido de que não vê necessariamente as Escrituras como o desdobramento da redenção num framework de pacto de obras/pacto de graça. Em vez disso, ela vê as Escrituras num paradigma mais de promessa/cumprimento.
De longe a maior diferença entre a teologia do novo pacto e a teologia do pacto é como cada uma vê a Lei Mosaica. A teologia do pacto vê a Lei de três maneiras: civil, cerimonial e moral. O aspecto civil da Lei eram aquelas leis no pacto do Sinai que governavam a nação teocrática de Israel enquanto viviam na Terra Prometida. O aspecto cerimonial da Lei governava o culto a Deus por Israel enquanto na terra. Finalmente, o aspecto moral da Lei governava o comportamento do povo de Deus. Deve-se entender que a Lei, em si e por si mesma, é um todo coeso e que os judeus não delinearam entre civil, cerimonial e moral; estes são apenas termos usados para ajudar a identificar as três áreas da vida israelita que a Lei Mosaica governava.
De acordo com a teologia clássica do pacto, Jesus veio para cumprir a Lei (Mateus 5:17). Ele o fez satisfazendo todos os aspectos cerimoniais, civis e morais da Lei. Jesus Cristo é a realidade por trás das sombras do sistema sacrificial do Antigo Testamento e, assim, cumpre o aspecto cerimonial da Lei. Jesus Cristo também suportou a pena que nossos pecados mereceram e, assim, cumpriu o aspecto civil da Lei. Finalmente, Jesus Cristo viveu em plena conformidade com o aspecto moral da Lei e cumpriu as exigências justas da Lei.
Agora, o aspecto moral da Lei representa a essência do pacto de obras. Como tal, ela transcende a economia Mosaica. Em outras palavras, Deus sempre exigiu santidade da humanidade. O pacto de obras não foi negado devido à queda, nem foi negado mesmo que tenha sido cumprido em Cristo. O aspecto moral da Lei ainda se mantém como o padrão de moralidade para a humanidade, porque é reflexo do caráter de Deus, e isso não muda. Portanto, a teologia do pacto ainda vê a Lei Mosaica (especialmente os Dez Mandamentos) como prescritiva para a Igreja, mesmo que os aspectos cerimonial e civil tenham sido tornados obsoletos em Cristo.
A teologia do novo pacto vê a Lei Mosaica como um todo e vê tudo cumprido em Cristo (até aqui de acordo com a teologia do pacto). No entanto, porque a teologia do novo pacto vê a Lei Mosaica como um todo, ela também vê o aspecto moral da Lei Mosaica como cumprido em Cristo e não mais aplicável aos cristãos. Em vez de estarmos sob o aspecto moral da Lei Mosaica conforme resumido nos Dez Mandamentos, estamos sob a lei de Cristo (1 Coríntios 9:21). A lei de Cristo seriam as prescrições que Cristo especificamente declarou nos Evangelhos (por exemplo, o Sermão da Montanha). Em outras palavras, toda a economia Mosaica foi posta de lado na teologia do novo pacto; ela não se aplica mais de maneira alguma aos cristãos. Então, enquanto a teologia do pacto vê uma continuidade entre o Antigo e Novo Testamentos em relação ao povo de Deus e ao modo de salvação, a teologia do novo pacto traça uma linha bastante aguda de distinção entre o Antigo e Novo Testamentos quando se trata da diferença entre o velho pacto Mosaico e o novo pacto mediado por Cristo. O velho pacto está obsoleto (incluindo o aspecto moral da Lei Mosaica) e foi substituído pelo novo pacto com a lei de Cristo para governar sua moralidade.