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Pergunta

O que é a teoria da recapitulação da expiação?

Resposta


Ao longo da história da igreja, as pessoas tentaram entender exatamente como Cristo nos salva. O que foi na vida e morte dEle que torna possível o perdão dos nossos pecados? Os Evangélicos Protestantes percebem corretamente que o Novo Testamento enfatiza muito a morte de Cristo em nosso favor como o pagamento da penalidade pelos nossos pecados, tornando possível o perdão aos crentes (veja Romanos 3:21–26 e 2 Coríntios 5:21), e aderem ao que é frequentemente chamado de visão substitutiva, ou expiação penal vicária (a penalidade foi paga por nós por Cristo).

No entanto, na história da igreja, houve teólogos que enfatizaram outros aspectos do que Cristo fez e como podemos ser salvos à luz disso. Irineu enfatizou Cristo como o segundo Adão que é vitorioso onde Adão falhou e desfaz o que Adão fez. Essa visão ficou conhecida como a teoria da recapitulação da expiação.

A teoria da recapitulação afirma que a expiação de Cristo reverteu o curso da humanidade da desobediência à obediência. A vida de Cristo recapitulou todas as etapas da vida humana e, ao fazê-lo, reverteu o curso da desobediência iniciado por Adão.

A palavra portuguesa "recapitulação" carrega consigo a ideia de "passar por novamente". Nesse sentido, Jesus percorreu o mesmo território que Adão percorreu, mas ele o fez em perfeita obediência. A palavra portuguesa vem de uma raiz latina que significa "cabeça". Portanto, em Cristo, a raça humana recebe uma nova cabeça. “Pois, assim como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1 Coríntios 15:22). A ideia de recapitulação também é encontrada em Romanos 5, onde Adão é a cabeça dos condenados e Jesus é a cabeça daqueles que são vivificados.

A ideia de recapitulação tem garantia bíblica, como acabamos de ver. A teologia reformada enfatiza que somos salvos não apenas pela morte de Cristo, mas também pela Sua vida sem pecado. Nossos pecados são imputados a Cristo e Ele pagou a penalidade por eles. Sua perfeita justiça é imputada a nós.

Não há problema em usar a recapitulação para descrever um elemento do que Cristo fez pelos crentes. O problema surge quando a recapitulação se torna o total do que Cristo fez pelos crentes, e em alguns sistemas, como a Ortodoxia Oriental, a recapitulação é contraposta à ideia de expiação substitutiva. Isso elimina um componente crucial da doutrina bíblica da expiação e do próprio evangelho. Mesmo nas passagens bíblicas onde a recapitulação parece ser apresentada com mais força, o elemento sacrificial também está presente.

O princípio de que “assim como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1 Coríntios 15:22) é encontrado no contexto do elemento sacrificial do evangelho: "Porque primeiro vos entreguei o que também recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras" (versículo 3). Romanos 5:13–19 talvez seja a maior passagem sobre recapitulação no Novo Testamento, mas é precedida por Romanos 5:6–11, que enfatiza a morte de Cristo em favor do Seu povo: "Ora, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios no tempo adequado. Porque dificilmente haverá quem morra por um justo; pois talvez alguém até ouse morrer por quem faz o bem. Mas Deus prova o seu amor para conosco ao ter Cristo morrido por nós quando ainda éramos pecadores. Assim, agora justificados pelo seu sangue, muito mais ainda seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isso, mas também nos gloriamos em Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual recebemos agora a reconciliação."

Além disso, não está claro se a recapitulação é realmente o destaque em Romanos 5:13–19. O versículo 18 enfatiza a obediência de Cristo, mas parece considerar um único ato de obediência como primordial: "Portanto, assim como por uma só transgressão veio o julgamento sobre todos os homens para a condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação que produz vida." Esse "ato único de justiça" não é outro senão a "obediência até a morte, e morte de cruz" de Cristo (Filipenses 2:8).

Em Cristo, a raça humana é recapitulada, ou seja, recebe uma Nova Cabeça — Aquele que foi bem-sucedido onde Adão falhou. Porém, isso por si só não foi suficiente para salvar a humanidade perdida. A penalidade do pecado deveria ser paga e, para isso, era necessário um sacrifício perfeito e sem pecado.

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