Resposta:
No seu livro de 1999 intitulado Os Mistérios de Jesus, os autores Timothy Freke e Peter Gandy escrevem: “Por que deveríamos considerar as histórias de Osíris, Dionísio, Adonis, Attis, Mithras e os outros salvadores dos Mistérios Pagãos como fábulas, e ao deparar-nos com essencialmente a mesma história contada em um contexto judeu, acreditar que seja a biografia de um carpinteiro de Belém?”
O subtítulo do livro de Freke e Gandy é "Seria o ‘Jesus Original’ um deus pagão?" Será que Jesus deve ser equiparado a Dionísio, o deus grego do vinho, vinificação, cultivo de uvas, fertilidade, loucura ritual, teatro e êxtase religiosa? Será que o relato bíblico de Jesus é realmente uma obra de ficção baseada nos deuses gregos e romanos como Dionísio, assim como Freke e Gandy afirmam?
Comecemos por responder à pergunta de se uma pessoa histórica chamada Jesus de Nazaré realmente viveu. Dr. Bruce Metzger resume a opinião da maioria quando diz: "Hoje, nenhum estudioso competente nega a historicidade de Jesus." Uma das razões pelas quais nenhum historiador descarta a vida de Jesus é que suas biografias do Novo Testamento passam, com distinção, todos os padrões historiográficos (os testes bibliográficos, de evidência interna e externa) estabelecidos para verificar personalidades antigas.
Algumas das "evidências" de que Jesus era realmente Dionísio incluem o seguinte:
• Dionísio nasceu de uma virgem. (Na realidade, nenhuma versão do mito de Dionísio atribui seu nascimento a uma virgem; ao contrário, ele é mais um produto da luxúria de Zeus).
• Dionísio ressuscitou dos mortos. (Dionísio foi despedaçado, e existem várias versões do que aconteceu depois: a mãe de Zeus remonta as peças; Zeus engole o coração de Dionísio e então o concebe novamente por uma de suas amantes; o coração de Dionísio é moído, transformado em uma poção e ingerido por uma mulher, que então o concebe. Em nenhum mito Dionísio promete ressurreição a seus seguidores.)
• Dionísio é o deus do vinho, e Jesus transformou água em vinho. (Dionísio não performou tal milagre, e é difícil ver como o deus da embriaguez e da farra poderia ser associado a Jesus de alguma forma.)
Quanto à possibilidade das biografias de Cristo terem sido corrompidas pelo mito de Dionísio, A. N. Sherwin-White, em seu trabalho Roman Society and Roman Law in the New Testament, destaca o fato de que são necessárias pelo menos duas gerações antes que os mitos possam se desenvolver, ser introduzidos e permanecer no registro de uma figura histórica. A datação das biografias de Jesus não deixa absolutamente nenhum espaço para isso.
De onde autores como Freke e Gandy tiram sua inspiração para acreditar que Jesus e Dionísio são a mesma pessoa? A figura controversa Bruno Bauer (1809—1882) apresentou uma série de trabalhos amplamente contestados há quase 200 anos alegando que Jesus nunca viveu. Seu trabalho foi retomado por Albert Kalthoff (1850—1906), que seguiu o ceticismo extremo de Bauer sobre o Jesus histórico e chegou a afirmar que Jesus de Nazaré nunca existiu e não era o fundador do cristianismo. Depois de Bauer e Kalthoff chegou James Frazer, que escreveu um livro de dois volumes intitulado O Ramo de Ouro: Um Estudo em Magia e Religião em que defendeu a teoria da adoração generalizada de deuses de fertilidade morrendo e ressuscitando em vários lugares.
Mas, como afirmamos anteriormente, o mito de que Jesus é um mito tem sido amplamente refutado nos círculos históricos e acadêmicos. Em seu livro A Bíblia entre os Mitos, o Dr. John Oswalt diz: “O que quer que a Bíblia seja, ela não é um mito. Ou seja, concluí que as semelhanças entre a Bíblia e o resto da literatura do antigo Oriente próximo são superficiais, enquanto as diferenças são essenciais.”
O Novo Testamento também nega um Jesus mítico e sincretista de duas maneiras. Primeiro, no livro de Atos, aqueles que ouviram o relato de Jesus pela primeira vez declararam: “Parece ser propagador de deuses estranhos. Pois Paulo anunciava a boa-nova de Jesus e a ressurreição. Então o tomaram e o levaram ao Areópago. E disseram: Podemos saber que ensino novo é esse de que falas? Pois estás nos anunciando coisas estranhas. Portanto, queremos saber o que é isso” (Atos 17:18–20). O ponto é, se as histórias sobre deuses que morrem e ressuscitam eram muitas no primeiro século, por que, quando o apóstolo Paulo pregou sobre Jesus ressuscitando dos mortos, os epicureus e estóicos não disseram: “Ah, assim como Hórus, Dionísio e Mithras”? Por que eles acharam a história de Jesus Cristo estranha e nova? O mesmo pode ser dito do discurso de Paulo em Atos 26 quando o governador Festus, um romano, afirmou que Paulo estava louco por pregar a ressurreição. Certamente Festus conhecia Dionísio.
Segundo, os autores do Novo Testamento demonstram claramente que a mente judaica rejeitava o sincretismo e o mito de forma veemente. O termo mito é usado cinco vezes no Novo Testamento, principalmente por Paulo, e sempre de forma negativa. Pedro contrasta mitos com os verdadeiros relatos de testemunhas oculares de Cristo: “Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pedro 1:16).
As supostas paralelas entre Jesus e Dionísio são frágeis no melhor dos casos e requerem uma distorção dos detalhes até o ponto de ruptura e além. Devemos acreditar que um grupo de judeus devotos do primeiro século em Jerusalém roubou os ensinamentos de um culto estrangeiro para criar uma nova religião? Pedro, Tiago e João sabiam quanto da mitologia de Dionísio?
Em conclusão, não há possibilidade de um "mito de Jesus" ter sido fabricado a partir da história de Dionísio (ou, como os romanos o chamavam, Baco). Gregory Koukl resume assim a questão: “Então, por que deveríamos considerar as histórias de Osíris, Dionísio, Adonis e Addis como mitos, e Jesus de Nazaré como história? A resposta é porque existe uma boa documentação de fonte primária para o último e não para o primeiro, para Jesus de Nazaré e não para os outros. A documentação é muito diferente. E se a evidência histórica para Jesus de Nazaré levada em seus próprios méritos é boa, então não importa se existem outros mitos que têm alguns detalhes semelhantes” (de "The Zeitgeist Movie & Other Myth Claims about Jesus”).