Resposta:
Os khazares (ou cazares) da Idade Média têm sido objeto de muitas teorias que os ligam de alguma forma aos judeus e à profecia bíblica. Muitas das teorias que envolvem a origem dos judeus khazares e sua diáspora hipotética são conspiratórias e promovidas por grupos radicais para promover ideias racistas.
O que sabemos sobre os khazares é o seguinte: os khazares eram descendentes de turcos e mongóis e, na época medieval, viviam na parte ocidental do Império Turco. No final do século VI d.C., as várias tribos dos khazares se uniram e conquistaram a independência dos turcos. O canato kazaque (a área governada pelos khazares) permaneceu soberano por cerca de trezentos anos. O que torna os khazares únicos na história europeia é a conversão de seu rei Bulan a uma forma de judaísmo, juntamente com a classe dominante khazar, por volta de 740 d.C. Um judeu khazar pode ser tanto um khazar étnico (de sangue turco ou mongol) que se tornou prosélito do judaísmo quanto um judeu étnico que viveu na Khazaria.
Na segunda metade do século VIII, o Império Khazar havia atingido o auge de seu poder. As fronteiras da Khazaria se estendiam da costa norte do Mar Negro (incluindo a Crimeia) e do Rio Dnieper, a oeste, até o Mar de Aral, a leste. Os khazares eram cercados pelos montes Cáucaso ao sul e pelos russos e búlgaros ao norte. O reino dos khazares abrangia partes da atual Rússia, Ucrânia, Cazaquistão e Uzbequistão. A capital da Khazaria era Itil, localizada perto da foz do rio Volga. O Império Khazar foi importante na história mundial por manter os invasores árabes ao sul do Cáucaso e, assim, impedir que o Islã se espalhasse mais ao norte da Europa. Assim como Carlos Martel manteve os muçulmanos à distância na Europa Ocidental, os khazares os repeliram da Europa Oriental.
A origem dos khazares está envolta em mistério, e algumas pessoas criaram suas próprias ideias para explicar a existência da Khazaria. Uma teoria é que os khazares são, na verdade, judeus - as dez "tribos perdidas" de Israel de alguma forma chegaram à Europa Oriental, o que explica sua posterior "conversão" ao judaísmo rabínico.
Outra teoria diz exatamente o contrário: os khazares são turcos sem nenhum sangue judeu. Após a queda da Khazaria, os khazares convertidos ao judaísmo supostamente emigraram para a Polônia, Alemanha e outras partes da Europa, onde mantiveram uma identidade judaica nominal e ficaram conhecidos como judeus. De acordo com a teoria, os judeus Ashkenazi foram erroneamente identificados como semitas, quando na verdade são turcos. Essa teoria é frequentemente proposta por aqueles que afirmam ser "verdadeiros judeus", como os do campo do israelismo britânico, resultando em exigências para que os judeus em Israel desistam de suas terras (como turcos, eles não têm direito à terra) e desculpando o antissemitismo (que não pode existir de fato, já que os judeus khazares são falsos judeus).
Nenhuma dessas teorias tem qualquer base na realidade. Não existem evidências históricas ou genéticas confiáveis que comprovem a teoria de que os khazares eram hebreus biológicos ou que os judeus modernos não descendem de Abraão. Outra teoria - de que o influxo de "judeus khazares" em Israel em 1948 cumpriu a profecia bíblica de Gogue e Magogue (ver Ezequiel 38-39) - vê a luta israelense pela independência como a tomada da Palestina dos muçulmanos pelos khazares. Essa teoria é igualmente infundada.
A história completa dos judeus khazares talvez nunca seja conhecida. Mas aqui está um cenário provável: alguns judeus étnicos viveram na Khazaria (e em muitos outros lugares) durante a Idade Média. Por volta de 740, um rei khazariano se converteu ao judaísmo, por motivos pessoais, práticos ou políticos, e trouxe alguns de seus súditos com ele. Quando o poder da Khazaria diminuiu e o império caiu, muitos judeus - tanto étnicos quanto prosélitos - deixaram essa área e, estabelecendo-se em comunidades judaicas em outros lugares, fundiram-se com a população local. Esse casamento entre judeus étnicos e prosélitos gentios não significa que os judeus de origem khazariana sejam menos judeus do que os outros ashkenazis. A Bíblia registra vários exemplos de gentios sendo trazidos para a cultura judaica: Raabe e Rute são exemplos claros (veja Mateus 1:5).
