Pergunta: "Que influência teve Júlio César na história bíblica?"
Resposta:
Júlio César não é mencionado na Bíblia, nem viveu durante os tempos registrados na Bíblia, tendo morrido em 44 a.C. No entanto, Júlio César instigou a transição da República Romana para o Império Romano, que foi liderado por um forte imperador/ditador. Os Césares que o seguiram desempenharam um papel significativo na perseguição da igreja primitiva. Um breve resumo da história romana e da carreira de Júlio César será útil:
Por centenas de anos, Roma operou como uma república, liderada pelo Senado composto por representantes do povo da classe alta. Naqueles dias, cidades (não países) muitas vezes exerciam o maior poder, e a cidade de Roma havia conquistado grande parte do mundo conhecido. As pessoas que viviam dentro do Império Romano eram pessoas conquistadas, sujeitas a uma potência estrangeira, a saber, a cidade de Roma. Um dos segredos do poder de Roma eram suas poderosas legiões e os generais que as comandavam.
Júlio César era um general ambicioso com muitas vitórias em seu nome. Ele também era um político que procurava transformar sua popularidade em poder real. Naquela época havia outros dois generais/políticos em posições semelhantes, Pompeu e Crasso. Com a morte de Crasso, Pompeu alinhou-se com o Senado, que ordenou que Júlio se aposentasse e voltasse sozinho a Roma. Júlio, percebendo que isso o deixaria vulnerável, retornou a Roma com sua 13ª Legião, e uma guerra civil eclodiu. Quando tudo estava resolvido, Júlio César estava firmemente no controle de Roma. Embora não tenha sido oficialmente designado imperador na época, historiadores posteriores o consideram o primeiro imperador romano, e o nome de família César tornou-se o título do imperador, nomeando aquele que seguiu os passos de Júlio César.
Júlio César foi assassinado em 15 de março de 44 a.C., por um grupo de senadores liderados por Bruto e Cássio. Uma nova rodada de guerra civil eclodiu. As forças de Marco Antônio, amigo de Júlio, e seu sobrinho-neto Otávio derrotaram as forças leais a Bruto e Cássio em Filipos. Antônio pretendia tomar o poder, mas Júlio adotou e designou Otávio como seu sucessor, pois não tinha filhos vivos legítimos de acordo com a lei romana. Forças leais a Otávio derrotaram as forças de Antônio (e sua parceira, Cleópatra) em Ácio, deixando Otávio como o único poder militar. No entanto, ele ainda teve que cortejar o apoio político e popular, o que fez de forma agressiva. Ao longo da sua vida, Otávio foi concedido cada vez mais poder. Em 27 a.C., ele recebeu o título de Augusto e, embora houvesse muitos limites legais, políticos e constitucionais ao seu poder, ele era, para todos os efeitos práticos, um ditador. Os Césares que seguiram Augusto tornaram-se cada vez mais despóticos. Alguns deles, incluindo Augusto César, são mencionados no Novo Testamento.
O herdeiro imediato de Júlio César é quem foi mencionado na famosa história da natividade: “Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se” (Lucas 2:1).
Augusto foi seguido por seu enteado adotivo Tibério, que é mencionado em Lucas 3:1. João Batista entrou em seu ministério no décimo terceiro ano do reinado de Tibério.
Tibério foi seguido por Calígula, que não é mencionado no Novo Testamento. Calígula era sobrinho-neto de Augusto por parte de pai e sobrinho de Tibério por parte de mãe.
Calígula foi seguido por Cláudio César, tio de Tibério. Cláudio é mencionado em Atos 18:2. Priscila e Áquila deixaram a Itália porque o imperador Cláudio expulsou todos os judeus de Roma.
O último imperador que poderia reivindicar qualquer parentesco com Júlio César foi Nero, que não é mencionado pelo nome no Novo Testamento, mas era o imperador no poder quando Paulo fez seu apelo a César (Atos 25:10-11). De fontes extrabíblicas sabemos da intensa perseguição de Nero aos cristãos.
Mesmo que Júlio César não seja mencionado nas Escrituras, e mesmo que não tenha vivido em nenhum dos tempos cobertos pela narrativa bíblica, sua ambição colocou em movimento os eventos que mudaram a República Romana para o Império Romano. Todo o Novo Testamento é colorido pelo contexto histórico e cultural do Império Romano, começando com Júlio César e seus sucessores. A igreja do Novo Testamento tomou uma posição contra o culto em torno do imperador romano, que muitas vezes era considerado uma divindade ou quase divindade. A confissão cristã central “Jesus é Senhor” é uma refutação do credo central do Império Romano, “César é Senhor”. Embora Augusto tivesse o título de “filho do Divino” (uma referência a Júlio), foi durante o reinado de Augusto que o verdadeiro Filho de Deus realmente nasceu na terra. Tibério, como imperador, era o chefe da religião romana, mas a Palavra de Deus o ultrapassou e veio a um profeta humilde chamado João, pregando no deserto. E, finalmente, os imperadores romanos com aspirações de divindade foram frequentemente os mais fortes perseguidores dos cristãos na igreja primitiva. Foi a ambição de Júlio César que abriu o caminho para um homem (o César) governar o Império Romano com mão de ferro e interpretar como traição a fidelidade cristã a Jesus Cristo como o único Senhor.
Júlio César foi um criador de tendências e modelo para muitos césares que o seguiram, e o impacto que teve no mundo romano afetou grandemente a igreja e a propagação do evangelho.