Resposta:
Um casamento levirato é literalmente um "casamento com um cunhado". A palavra levirato, que não tem nada a ver com a tribo de Levi, vem da palavra latina levir, "irmão do marido". Na antiguidade, se um homem morresse sem filhos, era comum que o irmão solteiro do homem se casasse com a viúva a fim de proporcionar um herdeiro para o falecido. A viúva se casava com um cunhado, e o primeiro filho gerado nessa união era considerado o descendente legal de seu falecido marido.
Vemos alguns exemplos na Bíblia de casamento levirato. O primeiro é a história de Tamar e Onã em Gênesis 38. Tamar havia se casado com Er, um filho de Judá. Er morreu, deixando Tamar sem filhos (Gênesis 38:6-7). A solução de Judá foi seguir o procedimento padrão do casamento levirato: ele disse ao irmão de Er, Onã: "Toma a mulher de teu irmão, cumpre o teu dever de cunhado e dá descendência a teu irmão" (versículo 8). Onã estava mais do que disposto a dormir com Tamar, mas, infelizmente, não desejava ter um filho com ela: "Porém Onã sabia que a descendência não seria sua. Assim, toda vez que se unia à mulher de seu irmão, derramava o sêmen no chão para não dar descendência ao irmão" (versículo 9). Em outras palavras, Onã estava tirando proveito egoísta do casamento levirato. Ele queria ter relações sexuais com sua cunhada, mas propositalmente evitou engravidá-la. Deus chamou as ações de Onã de "perversas" e o matou (versículo 10).
O casamento levirato tornou-se parte da Lei em Deuteronômio 25:5-6. Lá, os israelitas receberam a ordem de cuidar das mulheres cujos maridos morressem antes que elas tivessem filhos. Um irmão solteiro do homem falecido tinha a responsabilidade de se casar com sua cunhada: Deus chamou isso de "dever de um cunhado" (Deuteronômio 25:5). O propósito de Deus para o casamento levirato é declarado: "E o primogênito que ela lhe der perpetuará o nome do irmão falecido, para que o nome dele não se apague em Israel" (versículo 6). Na antiga Israel, a transmissão do nome da família e a herança dentro de uma tribo eram de importância vital (consulte Números 36:7 e 1 Reis 21:3).
Outro exemplo de casamento levirato na Bíblia é a história de Rute e Boaz. O primeiro marido de Rute morreu sem deixar filhos (Rute 1:1-5). Mais tarde, Rute conheceu um rico proprietário de terras chamado Boaz em Belém, e ele era parente do falecido marido de Rute (Rute 2:20). Rute pediu a Boaz que fosse seu "parente-resgatador", ou seja, que se casasse com ela e preservasse as terras que seu marido possuía (Rute 3:9). Boaz concordou, mas informou a Rute que havia um outro parente mais próximo; a obrigação de se casar com Rute e resgatar suas terras recaiu sobre ele primeiro (versículo 12). Como se viu, o parente mais próximo transferiu oficialmente seu direito de resgate para Boaz, abrindo caminho para que Boaz se casasse com Rute "para preservar o nome dele na sua herança" (Rute 4:5).
Em Mateus 22, Jesus é confrontado pelos saduceus com uma pergunta complicada baseada na exigência da Lei sobre o casamento levirato: "Mestre, Moisés disse: Se alguém morrer e não tiver filhos, seu irmão se casará com a viúva* e dará descendência ao irmão. Havia entre nós sete irmãos: o primeiro, havendo se casado, morreu e, por não ter descendência, deixou sua mulher para o irmão. Da mesma forma, também o segundo, o terceiro e até o sétimo. Depois de todos eles, a mulher também morreu. Assim sendo, de qual dos sete ela será esposa na ressurreição, visto que todos a tiveram como mulher?" (Mateus 22:24-28). Jesus corta o raciocínio hipotético e ensina a realidade da ressurreição (versículos 29-32).
O casamento levirato caiu em desuso no judaísmo moderno e é mais ou menos uma prática extinta atualmente. Mas sua existência entre os antigos israelitas, mesmo antes da Lei de Moisés, mostra a importância dada à continuidade da linhagem familiar e à preservação da herança divinamente designada.