Pergunta: "Por que é importante estar familiarizado com a história da igreja?"
Resposta:
Na mente de muitos, a história é um assunto a ser tolerado quando necessário, mas ignorado sempre que possível. Infelizmente, isso também é verdade para a história da igreja. A filosofia por trás dessa atitude é que tudo o que foi feito no passado está morto e enterrado, mas o que está acontecendo agora é vivo e vital. No entanto, Salomão declarou em Eclesiastes 1:9-10: “O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós.” Várias vezes nas Escrituras somos instruídos a aprender com as coisas feitas no passado, para que possamos nos tornar mais sábios (1 Coríntios 10:11; Romanos 15:4), e isso é especialmente verdade em relação à história da igreja.
A história da igreja está cheia de controvérsias, heresias e batalhas pela verdade. Devemos nos familiarizar com esses eventos se quisermos permanecer fielmente no presente. Nós tendemos a amar inovações e descobertas, mesmo quando se trata de teologia. Embora coisas novas possam despertar o nosso interesse, devemos estar atentos para garantir que sejam testadas e comprovadas. Robert Shindler, um colaborador próximo de Charles Haddon Spurgeon, observou: “É muito claro que os homens estão dispostos a renunciar ao velho por causa do novo. Mas comumente encontra-se na teologia que o que é verdadeiro não é novo, e o que é novo não é verdadeiro”.
Deus revelou nas Escrituras tudo o que é necessário para a vida e piedade (2 Pedro 1:3), e esses fundamentos nunca mudarão. Um estudo da história da igreja revelará que a maioria das “inovações” na teologia (e, às vezes, na prática) são simplesmente uma reembalagem de antigas heresias que foram rejeitadas pela igreja primitiva.
Um estudo da história da igreja revela que, nos primeiros séculos da igreja, os fundamentos de cada doutrina e prática cardinal foram testados e confirmados. Questões sobre a natureza de Deus, a identidade de Cristo, a realidade do céu e do inferno, a natureza do homem e o impacto do pecado, e muitas outras foram debatidas à medida que novos ensinamentos surgiram. Os escritos dos pais da igreja primitiva e as decisões dos concílios da igreja tratavam principalmente dessas coisas. O Concílio de Nicéia condenou o arianismo em 325. O Concílio de Cartago denunciou o pelagianismo em 418. E o Concílio de Calcedônia rejeitou o eutiquismo em 451.
Na história mais recente da igreja, no final de 1800, Charles Spurgeon e outros reconheceram uma tendência perigosa na igreja e a abordaram em uma série de artigos em A Espada e a Espátula, que deu origem à “Controvérsia do Down-grade”. Robert Shindler observou que houve uma mudança generalizada na Inglaterra em direção a uma forma de liberalismo chamada Socinianismo, em homenagem a Fausto Socino, que rejeitou a ideia da Trindade em 1574. Socino não originou este ensinamento, pois o mesmo erro havia sido abordado por Tertuliano no início do século III, quando escreveu contra o monarquianismo. Embora possamos não ouvir muito esses termos usados hoje, o socinianismo e o monarquianismo ainda são ensinados em algumas igrejas, e devemos estar atentos a esses e outros erros que podem se infiltrar em nossas comunidades.
O pastor e teólogo John Piper promove o estudo da história da igreja. Em uma mensagem intitulada “O valor de aprender história”, Piper afirma que o livrinho de Judas dá uma lição poderosa sobre a importância da história. Judas comparou as pessoas que ameaçavam a igreja em sua época com outras pessoas e eventos da história. Um aspecto interessante da abordagem de Judas é que ele escolheu alguns pontos históricos relativamente obscuros, mas esperava que seus leitores conhecessem os detalhes desses assuntos. Em Judas 1:11, Judas se refere aos personagens históricos de Caim, Balaão e Corá. Em uma sociedade onde as bibliotecas pessoais eram desconhecidas e as cópias pessoais das Escrituras eram praticamente inauditas, Judas presumiu que a maioria saberia quem eram essas pessoas. Ao aplicar lições históricas a situações atuais, Judas ensinou a igreja a estar atenta contra concessões e erros.
Outra razão para estudar a história da igreja é ajudar a liberar o nosso pensamento das modas atuais que moldam a nossa compreensão das questões. Gostemos ou não, somos um produto do nosso tempo, e os tópicos quentes do nosso dia inevitavelmente informam o nosso pensamento. Ao obter a perspectiva de outras eras sobre um determinado tópico, podemos pesar ideias que, de outra forma, poderiam nos escapar. O teólogo reformado J. W. Nevin disse que seu maior pecado como jovem cristão foi uma postura inadequada quanto aos fatos da história da igreja. Mais tarde, ele percebeu que a história da igreja é na verdade a história da vida da família de Cristo e era, portanto, a sua própria história que o conectou a Cristo.
Somos ordenados em Judas 1:3: “.... batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.” Há uma ênfase no passado e no presente neste versículo, e os dois não podem ser divorciados. Nossa fé é uma fé antiga, baseada em verdades atemporais, e somos chamados a vivê-la no presente. A sabedoria nos levaria a aprender com a história da igreja, a fim de compreendermos aqueles que lutaram nas batalhas e aprenderam as lições antes de nós, para que possamos cumprir nossos deveres com mais eficácia.